quarta-feira, março 5

Eles.



Lá estava ela, numa viagem para descansar a mente. Para poder esquecer os últimos acontecimentos.

Ainda estava bastante magoada e não queria escutar o nome dele perto dela. Dedicara muito tempo da vida dela a uma pessoa egoísta. Os sinais estavam lá, mas ela, cega de amor, não quis enxergar. Então sua amiga, sempre ela, resolveu comprar duas passagens para que ambas pudessem passear e se divertir.

Há muito elas vinham falando em conhecer Portugal. De alguma forma, ela sabia que aquele lugar a chamava. Só não entendia porque. E sua amiga estava com saudades da tia que morava por lá. Então foram.

As horas de viagem não foram problema. Ela colocou seu inseparável mp3 e dormiu quase a viagem toda. Mas não significou um sono tranquilo. Ela sonhava constantemente com ele. Já estava ficando sem paciência.  Uma das coisas que ela mais gostava de fazer era dormir, e até isso ele havia tirado dela, pois não queria voltar a sonhar com ele. Acordou com seu típico mau humor duplicado.

- Sonhou com ele novamente? - Perguntou a amiga preocupada.

Um simples aceno de cabeça encerrou o assunto. A amiga o estava odiando. Ela passara tanto tempo sozinha. Estava bem com isso, então ele chega, bagunçando o mundo dela para no final deixá-la. Ele poderia fazer isso com qualquer uma, menos com sua preciosa amiga. A discussão que teve com ele foi horrível, ela a expulsou da casa de sua amiga para nunca mais voltar.

Enfim, depois de mais de 10 horas de voo, elas estavam no chão. Pegaram  um taxi e partiram para a casa da tia da amiga. Ela, mesmo cansada, ficou tirando fotos e sorrindo todas as vezes que o taxista, um senhor gordinho de meia idade, ia comentando cada pequena parte de sua amada Lisboa.

A casa, que ficava na periferia da cidade, era enorme. Clássica. Ela se sentiu e, uma máquina do tempo. Lembrou-se imediatamente das pequenas ruas de Parati ou de alguma cidade histórica de Minas Gerais. Mal teve tempo de guardar sua mala, a tia estava chamando as duas amigas para irem comer alguma coisa.

Quando ela chegou na cozinha, viu a enorme mesa cheia de guloseimas. Tentou argumentar que estava de regime, mas a tia insistiu com tanto carinho que ela não teve como dizer não. Pensaria em regime quando voltasse ao Brasil.

Depois do banquete subiu para tomar um banho. Demorou. Estava cansada e queria relaxar antes de deitar. A amiga ainda passou em seu quarto para falar que o primo estaria em casa amanha e que levaria as duas para dar uma volta. Ela, mesmo a contra gosto, concordou. Pelo que ela lembrava, o primo da amiga era irritante. Mas estava de férias e nada iria estragar isso.

Acordou mais cedo do que achou que fosse acordar. Chegou à cozinha e a tia já estava em pé com a mesa do café posta. O cheiro era maravilhoso. Ao ser questionada do motivo de ter acordado tão cedo, mentiu dizendo que era o fuso horário. A mentira foi aceita. Após tomar café, saiu para dar uma volta de bicicleta. Estava no final do inverno e o dia estava agradável para dar uma volta.

A pequena vila era linda. Com ruas floridas e arborizadas tão diferente da selva de concreto que estava acostumada. Perdeu a noção do tempo. Ao voltar, o primo já havia chegado. Ele a recebeu alegremente. Estava mudado. Talvez fosse apenas birra dela das lembranças de quando eram os três crianças.

Ele contou que havia feito direito e que há pouco havia conseguido um emprego em um prestigiado escritório. Prometeu as duas que, mesmo tendo que trabalhar, elas iriam se divertir.

- Você não disse que iríamos ser suas pajens de trabalho. Ela precisa se divertir e não ter uma rotina igual ao que ela tem no Brasil.
- Ai, rapariga já te disse que vós não vão se arrepender. - Ele falou piscando um olho pra prima a deixando irritada. Isso arrancou uma gargalhada dela.

Então eles chegaram em uma loja de antiguidades ou coisas assim. Era um lugar pequeno e úmdo, mas de alguma forma ela se sentia bem lá dentro.

Ela estava vendo o preço de algumas coisas quando escutou vozes vindo de uma pequena porta. Eram três vozes diferentes. Uma ela sabia que era do primo da amiga, mas as outras duas ela não conhecia. Três homens saíram lá de dentro. O primo logo apresentou as duas para os outros dois homens. Um baixo, cabelos castanhos claros e magro. Mais fechado, porém simpático. O outro mais alto  cabelos castanhos escuros e feições mais amenas. Era mais tímido.

Os dois eram amigos dele, e ficaram interessados quando o amigo contou que as duas eram do Brasil. O mais alto perguntava todas as curiosidades que já havia escutado do país e a amiga falava as que eram mentira e as que eram verdade.

O mais extrovertido ficava brincando, tirando graça coisa que a irritava demais. Lembrava dele e isso já era motivo suficiente para a sua irritação. O tímido conversava com as duas, mas sempre que podia sorria pra ela. O que fazia com que seu coração batesse mais rápido. E ela não gostava disso. E nem queria. Só que ele já havia conquistado aquela mulher de feições tristes.

Então eles foram almoçar. Era um restaurante que ao lado ficava um museu. Ela adorava museus e ficou mais interessada no museu que no almoço. A amiga novamente brigou com ela e a mania que ela pegou do ex de viver em regime. Ela não precisava de regime.

Depois do almoço, os dois homens levaram as duas ao museu. O primo precisava voltar ao escritório e trabalhar. O tímido prometeu levá-las pra casa antes do jantar. Ela estava um pouco mais na frente quando sente alguém pegando em  sua mão. Era o tímido. Ele saíra lá de trás e segurou forte a sua mão. Sorriu ao ver que ela olhava sem jeito pra ele. Ela sorriu e relaxou quando sentiu o aperto de mão dele.

Foi quando ele a puxou para um canto. Sem falar nada e apenas sorrindo foi se aproximando dela para beijá-la. Cada vez mais perto, ela ficava mais nervosa, o que fazia com que ficasse mais encantadora aos olhos dele.

Foi um beijo suave, nada de beijo de cinema, mas um beijo real. Intenso. Dizendo pra ela que quem estava alí era um homem decidido. E ele havia decidido que ela seria dele. Para sempre. Ela sabia disso, havia sentido no beijo.

Sorriu. Ainda ofegante perguntou seu nome. A última coisa que ela se lembra antes de acordar do sonho é o semblante dele sorrindo pra ela. Nem o nome se lembrava.

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