quarta-feira, setembro 1

..::Tempo::..

Eles estavam chegando ao endereço indicado. Já passava das 22h e a casa não parecia muito agradável. O “Motel Bates” seria um hotel de luxo na frente daquela espelunca. Mas eles estavam dirigindo há horas e estavam querendo uma cama e banho (não necessariamente nesta ordem – ou sim, quem sabe?).

Entraram e se surpreenderam com a arrumação da casa. Era velha, estava caindo aos pedaços e a recepcionista parecia ser parente de Norman Bates ou coisa parecida, mas estava impecavelmente arrumada. Os móveis eram confortáveis e o ambiente era bastante perfumado.

Velha ou não, arrumada ou não, perfumada ou não, eles estavam querendo um local para passar a noite. Pegaram a chave do quarto. Duas camas. Já haviam tentado um relacionamento, mas não havia dado muito certo. O amor não dito! O tipo de amor mais intenso, e o mais injusto também. Coisas a serem ditas, brigam a serem postas pra fora, mas nada disso acontecia. Mantinham-se apenas por perto um do outro.

Deitaram-se! O banho de ambos havia demorado pelo menos meia hora para cada. Ficaram conversando banalidades. Eram campeões nesses tipos de assuntos. Mas, na verdade, queriam estar um nos braços do outro! Eram orgulhosos demais para admitir isso. Foi preciso uma única briga para que esse clima pairasse sobre as cabeças deles. Ou melhor... Uma não briga.

Imaginavam-se pertencendo um ao outro. Não haviam tido um relacionamento sério desde que se separaram. Simplesmente não conseguiam. Não evitavam “comparações entre flores e declarações”. Isso acabava com qualquer possibilidade de relacionamento antes mesmo do mesmo sequer começar.

Adormeceram! Sonharam. Estavam na cama. Estavam se amando. Estavam se tocando mutualmente. Estavam alcançando o êxtase juntos. Avistaram uma criança entre suspiros e gemidos. Aparentemente a criança não estava dando muita importância para a cena que estava diante de seus olhos. Olhava para os dois com ternura, carinho e admiração.

Ele ficou particularmente emocionado. A criança possuída a mesma cor de olhos, e a mesma tonalidade de pele que ela. Ela que agora estava em seus braços arfando de prazer. Isso fez com que lágrimas viessem aos seus olhos.

“Por que vocês não conversam mais?” Perguntou a criança.

“Mas nós conversamos!” Ele respondeu e ela concordou.

“Não quando estão acordados e não sobre o que é necessário.” Falou a criança.

“Meu amor... Nós conversamos!” Falou ela delicadamente.

“Pai, mãe... Eu preciso que vocês conversem, briguem, mostrem que estão interessados um no outro, que se amem! Só vocês fazendo isso eu poderei existir. E eu quero existir.” A criança agora estava se afastando.

Ambos acordaram num sobressalto! Olharam-se, como sempre não falaram nada do que um simples “Bom Dia”. Queriam se amar. Desejavam se amar! Planejavam se amar. Iam se amar. Era somente questão de tempo.

Beijos Uivantes.

Ass. Lobinha.

Um comentário:

alexandre disse...

Agora, você ganhou um admirador nato! Você citou a palavra que eu gosto de escutar e parece que entendeu o que é o TEMPO! Fiquei muito feliz.