segunda-feira, novembro 1

..:: A Suprema Felicidade ::..

Escrever bem é escrever sobre o que se sabe. Não há nada mais no mundo que eu não sabia que apreciar um bom filme. Mas ultimamente, “bons” filmes estão cada vez mais raros no mercado.

Um bom filme, para mim, é aquele filme que tem uma história tão envolvente que faz com que você se perca na poltrona do cinema. Esqueça que existe o tempo/espaço e sinta vontade de nunca mais sair.

Eu venho de uma geração pobre no quesito “Cinema Nacional”. Ao lembrar os filmes nacionais da minha infância, me vem à cabeça filmes como “Super Xuxa contra o baixo astral” e “Os Trapalhões e o rei do futebol”. Bem digamos que filme de Xuxa nunca foi digno de qualquer classificação, e os trapalhões deixaram de fazer filmes interessantes quando Mussum e Zacarias nos deixaram (Ainda tenho pra mim que um dos filmes infantis mais lindos que eu já vi chama-se “Os Saltimbancos Trapalhões”). Depois disso, vieram aqueles filmes de pornô chanchada ou de “putaria” explicita que eu, quando criança, não gostava muito.

Devido a isso, vários cineastas bons ou foram para fora do país, como é o caso do Fernando Meirelles e do Walter Salles, ou então simplesmente deixaram de trabalhar, como foi o caso do Arnaldo Jabor. Mas o Jabor é um homem multifacetado. Ele é capaz de te explicar economia, e escrever de amor com a mesma poesia que é capaz de transformar um roteiro com uma história simples em um dos filmes mais bonitos que o cinema nacional foi capaz de produzir.

Desde que eu vi os comerciais sobre o filme “A Suprema Felicidade” eu fiquei ansiosa. Ainda paira no ar, infelizmente na maioria dos brasileiros, um grande preconceito de que no Brasil não existe cinema. Existir existe, ele só não é divulgado com a mesma intensidade que os “gringos”. Exemplo disso é o filme do Padilha. Mas eu não vim falar disso. Vim falar de poesia.

Apesar do nome, o filme retrata a busca pela felicidade. Dessa felicidade que todo mundo procura, todo mundo quer, mas poucos têm a coragem de correr atrás. E fala isso como poucos conseguem. Prendendo a atenção da pessoa que está na poltrona assistindo.

O filme te faz rir (principalmente se na sessão que você for, as pessoas tiverem o mesmo “timing” para os comentários que você), o filme te emociona, o filme te encanta. E o filme retrata um Rio de Janeiro tão lúdico e poético que somente em filme para vermos isso.

Ele começa em 1945 no dia em que a Guerra terminou. E conta a história do Paulinho. Um garoto que vinha de uma família classe média típica carioca, mas que há muito perdeu o entusiasmo. O pai sentia-se um fracassado e a mãe uma dona de casa frustrada porque o marido não a deixa trabalhar. E conta a vida desse menino dos 08 aos 19 anos. Um garoto que tinha no avô o grande companheiro, amigo e confidente. E no pai um herói da aviação, mesmo que distante do mesmo. É em sua rua que ele convive com os personagens mais típicos da infância de um garoto. Dos vizinhos briguentos a moça romântica.

O Seu Noel, lindamente interpretado por Marco Nanini é o tipo de avô que TODO mundo sonha. É a “Dona Benta” de calças. Ensina ao neto todas as formas de felicidade, e como encontrá-la. A visão de mundo que o seu Noel tem é de um lirismo que somente os grandes homens possuem. E tenta passar ao neto isso. E o filme mostra o envelhecimento dessa verdadeira mente brilhante. Ele é boêmio, sagaz e romântico.

Há participações nesse filme que você simplesmente fica pensando que Arnaldo Jabor fez um pacto com Deus para trazer grandes figuras de volta, como é o caso do “Zé Bonitinho” que interpreta um padre do colégio do Paulinho ou a “Elke Maravilha” que faz a avó dele. Prestem atenção ao pipoqueiro que aparece em vários momentos da história. Seus diálogos são de uma ambiguidade tão grande que é preciso estar atento à história para não perder a graça deles. Ou a aparição, mesmo que pequena de Emiliano Queiroz.

Dan Stulback fazendo seu trabalho tão metodicamente perfeito que você realmente acredita que ele envelheceu e Maria Flor? Linda como sempre. O que me chamou a atenção mesmo foi o ator que faz o Paulinho aos 19 anos, Jayme Matarazzo (Não sei se tem ligação com O Matarazzo). Além de bonito (Muito, alias) soube dar ao personagem as angustias que um rapaz de 19 anos tem. De contestar a existência de Deus ao fascínio que uma bela dançarina vestida de Marilyn tem.

Enfim, o filme é uma experiência que todos nós precisamos passar no cinema e uma experiência de vida que eu sinceramente gostaria de ter tido. Quem sabe hoje eu não poderia falar que, enfim eu soubesse o que significa a Suprema Felicidade! (Mesmo que eu ainda esteja desconfiando que ela é utópica).

“Com sorte, a maioria das pessoas é alegre, por que a vida, Paulinho, a vida gosta de quem gosta dela” (Seu Noel).

Beijos Uivantes.

Ass. Lobinha.

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