quinta-feira, janeiro 13

..:: Distância ::..

Eles tinham um relacionamento intenso: na cama e fora dela. Dificilmente brigavam, e sempre se davam bem. Seus amigos, um casal mais chegado, na verdade, viviam afirmando que eles eram uma espécie de almas gêmeas.

Quando se fala de almas gêmeas logo vem à cabeça pessoas completamente iguais. Eles não eram assim, tinham suas particularidades, ele era sempre mais extrovertido, e ela sempre mais fechada, mas se completavam de uma maneira assustadoramente simétrica.

Mas, naqueles dias, eles estavam distantes um do outro. Não fisicamente, mas em suas almas, as coisas estavam diferentes. Ambos estavam ainda se dando bem, mas eles sabiam que não era exatamente a mesma coisa. Há pouco tempo eles haviam discutido besteira, como sempre, mas uma besteira que estava custando suas tranquilidades.

Ela estava voltada para o trabalho. Quando isso acontecia focava sua concentração no trabalho para não ficar pensando besteira. Ela era rainha de pensar besteiras. Racionalmente, ela sabia que não havia nada de errado, mas seu coração teimava às vezes, em querer pregar-lhe peças. Então, para não exagerar ou ser injusta, focava sua concentração nas planilhas que tanto odiava. E estava dando certo.

Estranhamente, ela estava conseguindo raciocinar sobre tudo, até sobre a estranha sensação de que eles estavam separados. Logo ela iria encontrar uma forma de mudar aquela sensação que a estava fazendo perder o sono. Por dias ela acordava e o via dormir. Ela adorava vê-lo dormir. Ficava admirando sua expressão calma e sorridente ao dormir. Sem ser metida ou convencida, ela sabia que ele estava sonhando com ela. Ela era a garota dos sonhos dele, disfarçada de todas as mulheres que já passaram pela vida dele.

Ela logo se levantou. Sabia que não iria conseguir voltar a dormir, e se permanecesse deitada iria acabar por acordá-lo. E ela não queria isso, não ainda. Foi ao banheiro para tomar um banho rápido. Ela havia adquirido essa mania (como ela falava) dele. Já iam completar aniversário de namoro e ela estava guardando aquela roupa para a ocasião especial. Mas ela sabia que, estando com ele, qualquer ocasião era especial. Lembrou-se de uma noite em que ele a levou para jantar... E outra no cinema. Sorriu ao lembrar ambas.

Vestiu a roupa. Ela havia olhado na vitrine. Sabia que aquela roupa seria dela. Fora feita para ela. Ela deixou seus cabelos soltos. Poucas vezes ela se permitia fazer isso, mas hoje ela seria a mulher apaixonada, nenhuma personagem estaria entre eles. Ela estava sentindo falta disso. Queria que ele fosse seu noivo apenas, sem personagens atrapalhando. Ao chegar ao quarto, ele ainda estava dormindo, sonhando e sorrindo. Ela quase se sentiu culpada por ter que acordá-lo... Quase.

Chegou perto dele e lentamente foi passando a mão em suas costas. O contorno de suas costas na camisa a deixava completamente enfeitiçada. E ela sorriu por ver que ele, aquele homem deitado, dormindo em sua cama a amava incondicionalmente. Ele era o seu anjo, seu protetor, seu amante, seu amor. E ela não queria mais nada. Ela estava completa.

Ele, ao sentir o delicado toque de suas mãos em seu corpo acordou. Como a visão que ele teve fora dela, não ficou chateado por ter sido acordado de um sonho com ela. A realidade de tê-la era muito mais interessante. Ele a tinha, sonhava com ela constantemente, mas era na realidade que ele se completava. Era na realidade que ele sabia que iria encontra-la ao acordar.

Eles se olharam. Sua sintonia era tão perfeita que eles, naquele momento, não precisavam de palavras. Elas estragariam tudo. Ele se sentou, encostando-se à cabeceira da cama olhando para ela. E ele sabia como agradá-la. Sabia que quem estava ali era a noiva apaixonada, que o amava inteiramente, e não qualquer personagem. Ela estava sorrindo olhando apaixonadamente para ele.

Ele sabia que aquela noite seria uma noite romântica. Aproximou-se, então de seu rosto. Ficou por um tempo afagando seu rosto entrelaçando seus dedos em seus cabelos soltos, macios, e molhados. Ele gostava quando eles estavam molhados. Lentamente se aproximou de seu rosto e delicadamente lhe beijou os lábios. Logos os olhos dela se fecharam. Sabia que aquele beijo se tornaria mais intenso.

Logo ela parou de pensar. Logo ela estava de volta para a cama. Logo eles estariam um nos braços do outro. E logo aquela sensação, aquela estranha sensação de distância sumiria.

Lobinha.

PS: Música tema para ler junto com o post: Parachute - Train.

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