segunda-feira, janeiro 21

Django: o escravo que reviveu o faroeste.



Django Livre (Tarantino, 2012) está longe de ser comparado aos mais recentes trabalhos do diretor. Ele trouxe a baila grandes passagens com diálogos inteligentes e complexos, se distanciando, ao máximo do Tarantino que nos acostumamos a ver desde Kill Bill, e ainda assim, nos dez primeiros minutos de filmes, veem os traços característicos que tanto deram sucesso ao mesmo.

Ele juntou o melhor do “western spaguetti” do Sérgio Leone (Por um punhado de Dólares dentre outros) com uma passagem conturbada da história de qualquer império: a escravidão; sem se tornar piegas ou preconceituoso, trabalhando de maneira séria e adulta, sem exageros ou com leviandade.

Claro que no filme não poderia deixar de haver as tão famosas cenas sanguinárias e violentas do diretor, mas desta vez, diferente do que ele fez com Bastardos Inglórios, por exemplo, tanto a carnificina quanto a violência estavam dentro de um contexto histórico, afinal de contas, torna-se impossível você trabalhar com a escravidão, sem mostrar na tela, as atrocidades que foram cometidas nestes conturbados anos. Palmas para o diretor, que soube inclusive trabalhar com a referência da Ku Klux Klan (Que só veio existir, de fato, após o final da guerra civil americana) em determinada cena do filme com seu humor negro característico e seu sarcasmo aguçado. 

Mas não se enganem, Django Livre, mesmo sendo infinitamente inteligente, ainda é um filme do Tarantino, e portanto, recheado em todos os diálogos, cenas e takes de seu humor negro que tanto lhe é característico.

Django conta a história de um escravo liberto que junto com seu libertador, o Dr. Schultz, vai atrás de sua mulher Bronhilde, posse do dono de escravos Sr. Candie. Durante sua jornada, Django descobre que a vida de um caçador de recompensas pode ser mais tranquila que a de um escravo, porém, ele deve saber tomar cuidado com as pessoas que encontra pelo caminho.

O elenco é um show a parte neste filme. Carregado de diálogos complexos, Tarantino precisava de atores profundamente intensos para seus personagens... E ele e controu. Jaime Foxx e o papel da personagem principal, nasceram um para o outro. Torna-se impossível desligar um do outro. Não vejo qualquer outro ator negro fazendo o papel do escravo tão bem quanto ele. Leonardo DiCaprio provou, mais uma vez, sua versatilidade, interpretando um dono escravos sulista frio e calculista que não mede esforços para conseguir o que quer de seus subordinados. Mas é com Christoph Waltz e Samuel L. Jackson que vemos o brilhantismo do roteiro de Tarantino. Christoph, inclusive ofuscando, em vários momentos do filme Jaime Foxx. E Samuel, conseguiu o que poucos atores conseguem em seus papeis, ficar “invisível” deixando apenas aparecer o personagem (Eu, por exemplo, só consegui identificá-lo depois de alguns segundos em que ele falava diálogos mais longos).

Os personagens Schultz e Stephen são, de longe, os mais interessantes personagens da carreira do diretor/roteirista. O primeiro, sendo um caçador de recompensas extremamente culto humano, trouxe à baila o outro lado da escravidão, aquele que homens e mulheres viam os escravos como pessoas. E o segundo, como um escravo que subjugava escravos, muito comuns naqueles tempos.

Mas, o que realmente deve ser respeitado neste filme é a trilha sonora. Ela foi simplesmente sublime. Sem ela, o filme perderia 40% do seu charme. A trilha sonora, composta inclusive por Jaime Foxx com um RAP, se incorporou perfeitamente no roteiro nos brindando com cenas épicas, que vão ficar na memória popular durante muito tempo. Dificilmente uma trilha sonora se encaixa tão perfeitamente num longa, geralmente isso acontecem com filmes que tenham trilha sonora do John Williams, dentre outros “feras”.

Django livre trouxe de volta um Tarantino esquecido e ofuscado pelo circuito comercial de Hollywood, trouxe de volta algo que existia em Pulp Fiction e Cães de Aluguel. São quase três horas de diálogos inteligentes, personagens complexos e claro, carnificina e sangue, só que desta vez tudo dentro de um mundo ‘perfeito’. É o tipo de filme que já nasceu épico.

Vanessa Carvalho.

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