terça-feira, agosto 4

O elemento da vida (pequena parte)



- Sabe Chanceler Collins, o senhor me lembra muito o “Presidente Snow” e “Voldemort”. – Falou Yuri na frente de todas aquelas pessoas. Sofia ficou observando de longe. Collins ainda era o pai dela, apesar de tudo.
- “Presidente Snow”? “Voldemort”? Eu deveria conhecer essas pessoas? – Collins falou impecavelmente estável à frente de seu gabinete.
- Não sei, são personagens dos livros “Jogos Vorazes” e “Harry Potter”. – Nesse momento escutou-se sons incompreensíveis das pessoas próxima aos dois.
- Livros proibidos não? Claro que um arruaceiro como você os conheceria.
- Só são proibidos por mostraram como é uma tirania e como se comporta um tirano. Assim como o senhor. – Yuri falou sem piscar para Collins que ficou num silêncio incompreensível, até mesmo para Sofia.
- Eu ainda não entendo por que eles são parecidos comigo. – Ele deu um sorriso que fez a espinha de Sofia gelar. Yuri já estava passando dos limites. Alguém precisava alertá-lo. Collins era paciente, mas não tanto.
- Simples, eles criaram seu próprio inimigo.
- Ah, meu querido, eu não tenho inimigos, no máximo tenho insetos que serão exterminados em breve.
- Ah, não teme seus inimigos? Esse também é um ponto bastante semelhante com eles. Subestimavam o poder da união. E se o senhor não acha que tem inimigo, o que me diz de Sofia? – Nesta hora ela estava chegando perto de Yuri que deu espaço para ela aparecer. Logo Sofia ficou ereta olhando o pai.
- Sofia? – Ele falou baixo assustado.
- Oi pai! – Foi a única coisa que ela falou sem desviar o olhar.
- Minha filha está ao seu lado porque você colocou caraminholas na cabeça inocente dela, mas assim que você...
- Eu coloquei caraminholas? Foi o senhor quem a tornou o que ela é hoje. Foi o senhor quem nos criou.
- Eu nunca nem sequer toquei um dedo num fio de cabelo dela.
- Não, o senhor a deixou no escuro. O senhor a ignorava, achando talvez, que ela não merecia conhecer o próprio pai, ou, temia do que ela iria pensar ao conhecê-lo. O senhor escondeu a verdade dela, escondeu a forma como tratava a todos, ao seu povo, deixando-o a beira da inanição, passando fome e sede, enquanto o senhor tinha seis refeições por dia. O senhor escondeu verdades dela, escondeu a irmã dela. Escondeu... A forma como a mãe dela morreu. – Quando ele falou isso, alguém que estava atrás dele tocou em seu ombro. Ao olhar para Sofia, Yuri viu a expressão de surpresa dela. Nesse momento soube que ela ainda não sabia de nada. – Está vendo, Chanceler, sua própria filha não sabe que o pai é um assassino. Que matou a própria mulher por descobrir que seria ela e não o senhor quem sucederia o poder. O senhor não poderia aguentar ser governado por uma mulher, não é? Não suportava a ideia de ter uma mulher no comando da sua cidade, naquela época, já sofrendo devido à sua loucura.
- Diga que ele está mentindo! – Sofia se aproximou do pai com lágrima nos olhos. Collins olhava para ela indiferente, como sempre. – Papai, diga que ele está mentindo. Diga que o senhor não fez isso.
- Desculpe, filha. Mas não devo contar mentiras. – Collins falou numa voz tão fria que nem mesmo Yuri acreditou no que acabara de ouvir. Enfim sua máscara havia caído.
- Seu desgraçado, assassino. – Sofia gritou correndo em direção ao pai. Foi impedida por Yuri.
- Ora Sofia, convenhamos, o que uma mulher poderia fazer? Provavelmente sua mãe editaria leis que beneficiasse a todos, que levasse água e consequentemente comida para toda o país, o que seria um problema, a água acabaria em menos de cinco anos. E você? Informática? Meu Deus, eu sempre quis um filho sabe. Quando você nasceu... Bem... Tive que aturar você e seus choros, suas crises, suas TPMs. Nem para me dar um neto você serviu. Você é seca.

Sofia escutava a tudo calada, olhando para ele com lágrimas molhando seu rosto. Ela imaginava que o pai talvez não gostasse tanto assim dela, mas não sabia que ele a desprezava. Há muito tempo ele já havia deixado de ser o herói que Sofia imaginava quando criança, mas mesmo assim, foi um choque escutar tais palavras do pai. 

Sem dizer palavra, ela se virou e se dirigiu ao local que estava Yuri. Quando eles se abraçaram, Sofia chorava silenciosamente forte, soluçando e Yuri só soube disso quando a abraçou. Ela tremia toda. Ele a abraçou o mais apertado que pode para ver se tirava toda aquela dor de dentro dela, o que claro, era impossível.

O tempo passou incrivelmente devagar para eles dois, mas na realidade não houve mais que meio minuto do momento que Collins terminou de falar para Sofia se acalmar e se virar para ele.

- Eu sempre tive inveja da forma como os pais das minhas amigas as tratavam. Eu nunca tive ilusões; desde nova sabia que o senhor gostaria de ter tido um filho, para talvez seguir seus passos. Mas sabe de uma coisa? Foi melhor assim, sabe por que, Collins? – A forma como Sofia falava era diferente de tudo que Yuri já havia visto a mulher falar. Algo havia mudado dentro dela.
- Por que Sofia? – Yuri notara que a voz dele falhara um pouco.
- Porque sua maldade termina com o senhor. Eu sou casada com um homem bom, com um verdadeiro homem, e quando meu filho, crescer, ele não saberá nada sobre essa noite. Ou de você.
- Filho? – Yuri e Collins falaram ao mesmo tempo assustados.
- Eu estou grávida e ele nunca saberá que você sequer existiu. – Sofia falou dando as costas para o pai e entrando no meio da multidão sendo seguida por Yuri.

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