quarta-feira, setembro 9

Querido Miguel Moreira Matos,



Essa é uma carta que eu estou escrevendo para mim mesma, talvez por isso o formato digital, pois lá no fundo, ainda tenho nutrido uma esperança tola de que talvez, apenas talvez, você ainda acesse esse sítio (Como me acostumei você se referir a sites e páginas da internet).

É angustiante, sabe? Eu lhe procuro em todo lugar, em toda gente, lembro de detalhes que talvez você fizesse. E isso me enlouquece imaginando o que você pensaria ou falaria diante de determinada situação. De como você está agora. Aí a saudade aperta, aquela saudade azul da qual Caio Fernando Abreu, um dia, escreveu.

E não é saudade de um toque ou cheiro, ou sequer de um olhar. A saudade que sinto, talvez seja a que mais dói, pois é uma saudade do não saber, mas ao mesmo tempo do saber. Saudade da conexão que havia. De como eu me sentia completa perto de você. É bem louco. Essa coisa toda de sensações.... Uma conexão com a intimidade que você me proporcionou ter, pois saiba que eu me sentia mais íntima de você, que estava longe, do que de qualquer outra pessoa perto. E isso sem eu nunca ter tido relações com você. Afinal, muitas vezes ter relações não significa ter intimidade (E eu lhe sou grata por ter me dado isso). Você me mostrou que... Ou melhor o que era o amor no seu sentido pleno (Obrigada por isso).

Cinco anos se passaram desde que tivemos nossa última conversa naquela manhã nefasta de segunda (Sempre segunda, não é?), depois de eu lhe ter pedido revelações, sem palavras dúbias, e, como sempre, você me proporcionou o que eu lhe pedia. Talvez, eu estivesse querendo que você mentisse, já que a verdade faria com que tudo aquilo acabasse, como realmente acabou. 

Cinco anos se passaram e ainda dói como naquela vez. E é difícil superar você, sabe? Eu tenho tentado, em vão, obviamente, seguir em frente, esquecer, deixar pra lá. Mas como se pode seguir quando, dentro de nós sabemos que não há mais como mudar a realidade? E mesmo longe, você foi a realidade da qual hoje eu vejo que não consigo viver sem.... Pois com você era como se tudo se encaixasse num engate perfeito. Foi quando tudo fez sentido, quando tudo parecia.... Certo. E quando, enfim, eu soube o que era viver sem solidão; o que era não se sentir sozinha o tempo todo.

Quando tudo acabou foi como se parte de mim deixasse de existir. E uma parte vital, sabe? Foi como se um dementador tivesse levado embora a minha felicidade. Ele me levou você.

E eu deveria sentir ódio, raiva, repulsa por você, mas... Como se pode ter raiva de algo que detém posse do nosso coração? Como sentir raiva de algo que nos completava? Eu deveria ter lhe esquecido, ter lhe superado, mas.... 

E por mais que eu saiba que talvez, apenas talvez, tudo que eu sinta seja por alguém que minha imaginação criou, alguém que nunca foi real, é por você que eu procuro em outras pessoas (Não que isso seja justo com elas, eu sei que não é). E é por você que eu sempre procurarei e esperarei encontrar, mesmo que seja apenas uma pequena parte, mesmo que seja apenas um arremedo de você.

                                                                        
                                                                        Amo-te verdadeiramente.
                                                                                  Sempre sua,
                                                                                       Nessie.

Nenhum comentário: