Lá estava ela, numa
viagem para descansar a mente. Para poder esquecer os últimos acontecimentos.
Ainda estava bastante
magoada e não queria escutar o nome dele perto dela. Dedicara muito tempo da
vida dela a uma pessoa egoísta. Os sinais estavam lá, mas ela, cega de amor,
não quis enxergar. Então sua amiga, sempre ela, resolveu comprar duas passagens
para que ambas pudessem passear e se divertir.
Há muito elas vinham
falando em conhecer Portugal. De alguma forma, ela sabia que aquele lugar a
chamava. Só não entendia porque. E sua amiga estava com saudades da tia que
morava por lá. Então foram.
As horas de viagem
não foram problema. Ela colocou seu inseparável mp3 e dormiu quase a viagem
toda. Mas não significou um sono tranquilo. Ela sonhava constantemente com ele.
Já estava ficando sem paciência. Uma das
coisas que ela mais gostava de fazer era dormir, e até isso ele havia tirado
dela, pois não queria voltar a sonhar com ele. Acordou com seu típico mau humor
duplicado.
- Sonhou com ele
novamente? - Perguntou a amiga preocupada.
Um simples aceno de
cabeça encerrou o assunto. A amiga o estava odiando. Ela passara tanto tempo
sozinha. Estava bem com isso, então ele chega, bagunçando o mundo dela para no
final deixá-la. Ele poderia fazer isso com qualquer uma, menos com sua preciosa
amiga. A discussão que teve com ele foi horrível, ela a expulsou da casa de sua
amiga para nunca mais voltar.
Enfim, depois de mais
de 10 horas de voo, elas estavam no chão. Pegaram um taxi e partiram para a casa da tia da
amiga. Ela, mesmo cansada, ficou tirando fotos e sorrindo todas as vezes que o
taxista, um senhor gordinho de meia idade, ia comentando cada pequena parte de
sua amada Lisboa.
A casa, que ficava na
periferia da cidade, era enorme. Clássica. Ela se sentiu e, uma máquina do
tempo. Lembrou-se imediatamente das pequenas ruas de Parati ou de alguma cidade
histórica de Minas Gerais. Mal teve tempo de guardar sua mala, a tia estava
chamando as duas amigas para irem comer alguma coisa.
Quando ela chegou na
cozinha, viu a enorme mesa cheia de guloseimas. Tentou argumentar que estava de
regime, mas a tia insistiu com tanto carinho que ela não teve como dizer não.
Pensaria em regime quando voltasse ao Brasil.
Depois do banquete
subiu para tomar um banho. Demorou. Estava cansada e queria relaxar antes de
deitar. A amiga ainda passou em seu quarto para falar que o primo estaria em
casa amanha e que levaria as duas para dar uma volta. Ela, mesmo a contra
gosto, concordou. Pelo que ela lembrava, o primo da amiga era irritante. Mas
estava de férias e nada iria estragar isso.
Acordou mais cedo do
que achou que fosse acordar. Chegou à cozinha e a tia já estava em pé com a
mesa do café posta. O cheiro era maravilhoso. Ao ser questionada do motivo de
ter acordado tão cedo, mentiu dizendo que era o fuso horário. A mentira foi
aceita. Após tomar café, saiu para dar uma volta de bicicleta. Estava no final
do inverno e o dia estava agradável para dar uma volta.
A pequena vila era
linda. Com ruas floridas e arborizadas tão diferente da selva de concreto
que estava acostumada. Perdeu a noção do tempo. Ao voltar, o primo já havia
chegado. Ele a recebeu alegremente. Estava mudado. Talvez fosse apenas birra
dela das lembranças de quando eram os três crianças.
Ele contou que havia
feito direito e que há pouco havia conseguido um emprego em um prestigiado
escritório. Prometeu as duas que, mesmo tendo que trabalhar, elas iriam se
divertir.
- Você não disse que
iríamos ser suas pajens de trabalho. Ela precisa se divertir e não ter uma
rotina igual ao que ela tem no Brasil.
- Ai, rapariga já te
disse que vós não vão se arrepender. - Ele falou piscando um olho pra prima a
deixando irritada. Isso arrancou uma gargalhada dela.
Então eles chegaram
em uma loja de antiguidades ou coisas assim. Era um lugar pequeno e úmdo, mas
de alguma forma ela se sentia bem lá dentro.
Ela estava vendo o
preço de algumas coisas quando escutou vozes vindo de uma pequena porta. Eram
três vozes diferentes. Uma ela sabia que era do primo da amiga, mas as outras
duas ela não conhecia. Três homens saíram lá de dentro. O primo logo apresentou
as duas para os outros dois homens. Um baixo, cabelos castanhos claros e magro.
Mais fechado, porém simpático. O outro mais alto cabelos castanhos escuros e feições mais
amenas. Era mais tímido.
Os dois eram amigos
dele, e ficaram interessados quando o amigo contou que as duas eram do Brasil.
O mais alto perguntava todas as curiosidades que já havia escutado do país e a
amiga falava as que eram mentira e as que eram verdade.
O mais extrovertido
ficava brincando, tirando graça coisa que a irritava demais. Lembrava dele e
isso já era motivo suficiente para a sua irritação. O tímido conversava com as
duas, mas sempre que podia sorria pra ela. O que fazia com que seu coração
batesse mais rápido. E ela não gostava disso. E nem queria. Só que ele já havia
conquistado aquela mulher de feições tristes.
Então eles foram
almoçar. Era um restaurante que ao lado ficava um museu. Ela adorava museus e
ficou mais interessada no museu que no almoço. A amiga novamente brigou com ela
e a mania que ela pegou do ex de viver em regime. Ela não precisava de regime.
Depois do almoço, os
dois homens levaram as duas ao museu. O primo precisava voltar ao escritório e
trabalhar. O tímido prometeu levá-las pra casa antes do jantar. Ela estava um
pouco mais na frente quando sente alguém pegando em sua mão. Era o tímido. Ele saíra lá de trás e
segurou forte a sua mão. Sorriu ao ver que ela olhava sem jeito pra ele. Ela
sorriu e relaxou quando sentiu o aperto de mão dele.
Foi quando ele a
puxou para um canto. Sem falar nada e apenas sorrindo foi se aproximando dela
para beijá-la. Cada vez mais perto, ela ficava mais nervosa, o que fazia com
que ficasse mais encantadora aos olhos dele.
Foi um beijo suave,
nada de beijo de cinema, mas um beijo real. Intenso. Dizendo pra ela que quem
estava alí era um homem decidido. E ele havia decidido que ela seria dele. Para
sempre. Ela sabia disso, havia sentido no beijo.
Sorriu. Ainda
ofegante perguntou seu nome. A última coisa que ela se lembra antes de acordar
do sonho é o semblante dele sorrindo pra ela. Nem o nome se lembrava.
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