Django Livre (Tarantino, 2012) está longe de ser
comparado aos mais recentes trabalhos do diretor. Ele trouxe a baila grandes passagens
com diálogos inteligentes e complexos, se distanciando, ao máximo do Tarantino
que nos acostumamos a ver desde Kill Bill, e ainda assim, nos dez primeiros
minutos de filmes, veem os traços característicos que tanto deram sucesso ao mesmo.
Ele juntou o melhor do “western spaguetti” do Sérgio Leone (Por um punhado de Dólares
dentre outros) com uma passagem conturbada da história de qualquer império: a
escravidão; sem se tornar piegas ou preconceituoso, trabalhando de maneira
séria e adulta, sem exageros ou com leviandade.
Claro que no filme não poderia deixar de haver as tão
famosas cenas sanguinárias e violentas do diretor, mas desta vez, diferente do
que ele fez com Bastardos Inglórios, por exemplo, tanto a carnificina quanto a
violência estavam dentro de um contexto histórico, afinal de contas, torna-se
impossível você trabalhar com a escravidão, sem mostrar na tela, as atrocidades
que foram cometidas nestes conturbados anos. Palmas para o diretor, que soube
inclusive trabalhar com a referência da Ku Klux Klan (Que só veio existir, de
fato, após o final da guerra civil americana) em determinada cena do filme com
seu humor negro característico e seu sarcasmo aguçado.
Mas não se enganem, Django Livre, mesmo sendo
infinitamente inteligente, ainda é um filme do Tarantino, e portanto, recheado
em todos os diálogos, cenas e takes de seu humor negro que tanto lhe é característico.
Django conta a história de um escravo liberto que junto
com seu libertador, o Dr. Schultz, vai atrás de sua mulher Bronhilde, posse do
dono de escravos Sr. Candie. Durante sua jornada, Django descobre que a vida de
um caçador de recompensas pode ser mais tranquila que a de um escravo, porém,
ele deve saber tomar cuidado com as pessoas que encontra pelo caminho.
O elenco é um show a parte neste filme. Carregado de
diálogos complexos, Tarantino precisava de atores profundamente intensos para
seus personagens... E ele e controu. Jaime Foxx e o papel da personagem
principal, nasceram um para o outro. Torna-se impossível desligar um do outro.
Não vejo qualquer outro ator negro fazendo o papel do escravo tão bem quanto
ele. Leonardo DiCaprio provou, mais uma vez, sua versatilidade, interpretando
um dono escravos sulista frio e calculista que não mede esforços para conseguir
o que quer de seus subordinados. Mas é com Christoph Waltz e Samuel L. Jackson
que vemos o brilhantismo do roteiro de Tarantino. Christoph, inclusive
ofuscando, em vários momentos do filme Jaime Foxx. E Samuel, conseguiu o que
poucos atores conseguem em seus papeis, ficar “invisível” deixando apenas
aparecer o personagem (Eu, por exemplo, só consegui identificá-lo depois de
alguns segundos em que ele falava diálogos mais longos).
Os personagens Schultz e Stephen são, de longe, os mais
interessantes personagens da carreira do diretor/roteirista. O primeiro, sendo
um caçador de recompensas extremamente culto humano, trouxe à baila o outro
lado da escravidão, aquele que homens e mulheres viam os escravos como pessoas.
E o segundo, como um escravo que subjugava escravos, muito comuns naqueles
tempos.
Mas, o que realmente deve ser respeitado neste filme é a
trilha sonora. Ela foi simplesmente sublime. Sem ela, o filme perderia 40% do
seu charme. A trilha sonora, composta inclusive por Jaime Foxx com um RAP, se
incorporou perfeitamente no roteiro nos brindando com cenas épicas, que vão
ficar na memória popular durante muito tempo. Dificilmente uma trilha sonora se
encaixa tão perfeitamente num longa, geralmente isso acontecem com filmes que
tenham trilha sonora do John Williams, dentre outros “feras”.
Django livre trouxe de volta um Tarantino esquecido e
ofuscado pelo circuito comercial de Hollywood, trouxe de volta algo que existia
em Pulp Fiction e Cães de Aluguel. São
quase três horas de diálogos inteligentes, personagens complexos e claro,
carnificina e sangue, só que desta vez tudo dentro de um mundo ‘perfeito’. É o
tipo de filme que já nasceu épico.
Vanessa Carvalho.
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