Sete horas
da noite de sexta feira. Ela já havia cumprido com todos os seus compromissos
sociais. Já havia pago as contas, notou que algumas inclusive estavam
atrasadas, ela precisaria ser mais esperta no próximo mês. Mas quem nunca
esqueceu de pagar uma conta no dia do vencimento dentre tantas contas que
existem?
Ela
comprou um ou dois mimos para ela. Afinal de contas, fazia tempo que ela não comprava
nada. Sonhou com um ou dois livros ao vê-los em sua livraria preferia. Percebeu
o quanto estava sentindo falta de se perder nas páginas de uma história boa.
Ultimamente as únicas páginas que têm lido são as das suas obrigações
acadêmicas.
Aliás, ela
também cumpriu, e com louvor, pelo menos para ela, suas obrigações acadêmicas.
Foi à aula. Deu força para as amigas, afinal de contas, elas precisavam muito
de seu apoio, as batalhas que as mesmas estão enfrentando não são fáceis de se
passar incólumes. Ela respirou (O movimento natural de inspirar e expirar até o
final da vida) sempre que se via precisava. Assistiu à aula, riu, brincou,
anotou tudo que poderia, respirou novamente.
Ao final,
despediu-se de todos e foi para casa. Respirou novamente. Ainda não era hora.
Ela poderia esperar mais algum tempo. Enfrentou o trânsito do final da tarde
início da noite. Estava cansada. Naquele dia em particular estava mais cansada
que o normal. Queria logo chegar em casa. E quando o fez, deparou-se com a
falta de água. Precisou esperar alguns minutos para que a bomba de água do
prédio estivesse consertada. Quando enfim foi consertada, tomou um banho. Nada
melhor como um bom banho ao chegar em casa.
Colocou
sua confortável roupa caseira (Que ela chama carinhosamente de “roupa de
mendigo”) e foi jantar. Lembrou-se novamente de respirar. Na hora da janta ficou
repassando tudo o que deveria fazer no dia seguinte. Ainda estava em dúvida
sobre o compromisso acadêmico do sábado de manhã. Faça o que digo, não faça o
que faço não é muito seu estilo. Mas ela também sabe que ela poderia aproveitar
aquele dia para tentar descansar um pouco mais, apesar de saber que as horas
que ela gostaria de dormir não acontecerão mais. Ela também pensou em como
faria seu texto de sexta à noite.
Quando
começou a escrevê-lo, ela já o possuía quase todo pronto, alguns detalhes ela
acrescentou enquanto escrevia. Tentou evitar pensamentos de amores (Amor no
caso, ou um novo amor, ou a semente de um novo amor) proibidos. Ela sabe que
dos amores proibidos aquele estava em primeiro lugar em sua lista. Mas seus
pensamentos eram traiçoeiros. Mesmo quando ela não pensava nele, ele estava
lá... Escondido em algum lugar pronto para aparecer. Ela odiava esse tipo de
pensamento. Ela detesta tudo que não pode controlar. Então, ela evita tais
pensamentos o máximo que pode. Até porque ela sabe que é proibido.
Então foi
para o seu quarto. E começou a escrever o tal texto. Escrevendo sem pensar
muito em como estava ficando o texto. Respirava sempre. Estava sem paciência para
filmes, logo ela, que respira cinema. Logo ela que cinema é o cerne do seu ser,
naquele dia ela não queria saber de barulho de explosões, brigas, monstros,
choros ou algo assim. Então ela respirou mais um pouco. Ainda não; era o que
sempre repetia para si mesma.
Pensou que talvez pudesse ver alguma coisa no
Netflix. Aquele desenho de dragões que ela tanto gosta, talvez. Depois veria
isso. Ela não estava querendo ver nada com legenda. Sua cabeça doía. Teria que
se lembrar de cumprir a promessa que fizera a uma amiga de que procuraria um
oftalmologista para ver sua vista.
As
respirações estavam cada vez mais constantes. Quando algo natural quanto
respirar passa a ser uma obrigação, ela sabe que logo as mesmas não resolveriam.
Ela estava escutando música. O som tão baixo que mal se podia escutar. Muitas
vezes ela precisava olhar para a tv para saber qual música estava tocando. Ela
sabia que era alguma música da década que ela tem verdadeiro amor: Anos 80.
Para ela, as pessoas naquela época eram mais felizes por tudo ser mais simples.
A simplicidade é uma benção: ela pensou. Respirou novamente. Até mesmo respirar
não estava adiantando mais. Mas ela deixaria de se controlar apenas quando não
escutasse mais barulhos de movimentos na casa. Quando soubesse que sua mãe estaria
em seu quarto.
Somente
depois disso, apenas depois disso, ela tiraria sua máscara da normalidade e se
permitiria ser ela mesma. Somente quando só, e em seu quarto, ela se permitiria
chorar. E choraria por todas as vezes que se lembrou de respirar naquele dia.
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